Sermão
proferido por Dom Tomás de Aquino OSB. Desejou-se, tanto quanto possível,
conservar em sua escrita a simplicidade da linguagem oral.
†
PAX
XXIV Domingo depois de Pentecostes (2013)
PAX
XXIV Domingo depois de Pentecostes (2013)
Ao
terminar o ano litúrgico, pois com este domingo se termina o ano litúrgico, a
Santa Igreja põe diante de nossos olhos os acontecimentos que marcarão o final
não só de um ano, mas o final de todos eles, o final de todos os tempos, ou
seja, o juízo final e o começo da eternidade, eternidade que será bem diferente
para uns e outros conforme as ações de uns e de outros. Os bons terão o Céu e
os maus irão para o Inferno. Tanto o Céu como o Inferno são eternos. Quem
entrar no Céu jamais sairá de lá. Quem entrar no Inferno também jamais sairá de
lá.
Ora,
tanto a epístola como o Evangelho de hoje insistem na necessidade de
conhecermos a vontade de Deus sobre nós. Por esta razão, nós vamos iniciar no
próximo domingo os dias de formação para todos os nossos fiéis. Todos são
convidados a almoçar aqui e teremos conferências de formação no 1º domingo de
cada mês.
Mas
por que temos necessidade desta formação se no domingo já temos o sermão e o
catecismo? A resposta está no Evangelho de hoje. Vejamos, pois, o que diz o Evangelho:
“Naquele
tempo, disse Jesus a seus discípulos: Quando virdes no lugar santo a abominação
da desolação que foi predita pelo profeta Daniel, quem ler entenda. Então os
que estiverem na Judeia fujam para os montes; e o que se achar no terraço não
desça para buscar coisa alguma de sua casa; e o que estiver no campo, não volte
para tomar sua túnica”. Façamos uma pausa.
Nosso
Senhor fala aqui de dois acontecimentos ao mesmo tempo. Dois acontecimentos que
têm uma mesma causa. Quais são estes dois acontecimentos e qual é esta causa
comum? A causa é a recusa de crer em Nosso Senhor. Mas comecemos pelos
acontecimentos e depois examinaremos melhor esta causa que é comum aos dois,
razão dos domingos de formação que queremos fazer.
Nosso
Senhor fala aqui da destruição do templo de Jerusalém e, ao mesmo tempo, da
destruição, se possível fosse, da Santa Igreja.
O
primeiro acontecimento marca o fim do reino de Israel e dos antigos sacrifícios
prescritos por Moisés e que eram realizados no templo de Jerusalém. Este templo
foi destruído no ano 70 quando Tito, general romano, cercou Jerusalém e venceu
os judeus, matando cerca de um milhão de judeus. Pouco tempo depois o imperador
Adriano acabou de destruir o que restara do templo e expulsou os judeus da
região da Palestina, os dispersando pelo mundo.
Nosso
Senhor prediz estes acontecimentos e aconselha aos fiéis partirem dali antes
que estes acontecimentos se realizem, dando-lhes os sinais necessários para
partirem antes da destruição de Jerusalém.
Entre
estes sinais, Nosso Senhor fala da “abominação da desolação posta no lugar
santo”. Lugar santo era o templo de Jerusalém. A abominação da desolação são os
símbolos do paganismo dentro do templo, como fez Pilatos pondo os símbolos dos
romanos dentro do templo de Jerusalém e como fizeram os imperadores romanos em
sinal de desprezo pelo templo. Estes símbolos eram os estandartes e as estátuas
dos romanos que simbolizam as doutrinas dos pagãos que consideravam os
imperadores romanos como deuses. Eis aí o primeiro acontecimento predito por
Nosso Senhor.
Nosso
Senhor prediz não só o acontecimento, mas explica o que acontecerá antes dele
para alertar os fiéis, para que eles fujam de Jerusalém antes de sua
destruição, como Ló foi avisado para sair de Sodoma antes da destruição desta
cidade.
Passemos
agora ao segundo acontecimento predito por Nosso Senhor. Nosso Senhor prediz
aqui o que acontecerá no fim do mundo. Ele nos diz as mesmas palavras: “Quando
virdes no lugar santo a abominação da desolação… então fujam para os montes…”
Que lugar santo é este senão a Santa Igreja Católica Apostólica Romana? Que
abominação da desolação é esta?
Santo
Hilário nos diz que a abominação da desolação é o Anticristo. Por que tem ele
este nome? Por que ele ensinará o contrário do que Nosso Senhor ensinou. Assim
como Nosso Senhor Jesus Cristo veio nos ensinar a verdade, o Anticristo virá
ensinar a mentira.
Mas
quem é o Anticristo? É ele uma pessoa, ou um grupo de pessoas ou uma
situação geral de desorientação diabólica devido à perda geral da Fé? Três possibilidades:
Ou
o Anticristo é uma pessoa, um homem, o homem de pecado, um homem que se
entregará totalmente ao demônio;
Ou
então é um grupo de homens que dominarão o mundo, levando-o a repudiar
totalmente o Cristianismo;
Ou
então é uma situação geral em que todas as nações se voltarão contra Nosso
Senhor Jesus Cristo e contra a Sua Santa Igreja.
Qual
destas possibilidades é a verdadeira? Provavelmente as três.
Assim
como Nosso Senhor teve profetas que anunciaram e preparam sua vinda, assim o
Anticristo terá e já tem os seus profetas que preparam a sua vinda.
Um
grupo de homens preparará a vinda do Anticristo criando uma situação favorável
para o seu domínio sobre as nações e finalmente ele virá. Logo, as três
possibilidades se completam:
O
Anticristo é
1
– a apostasia geral
2
– um grupo de homens e
3
– um homem.
Escutemos
São Paulo nos descrever estes acontecimentos que a Santa Igreja propõe hoje à
nossa consideração.
“Ninguém
de modo algum vos engane, porque isto não será [ele fala aqui do fim do mundo e
do Juízo Final] sem que venha antes a apostasia [apostasia consiste no abandono
da fé católica] e sem que tenha aparecido o homem do pecado, o filho da
perdição, o qual se oporá e se elevara sobre tudo o que se chama Deus ou que é
adorado, de sorte que se sentará no templo de Deus, apresentando-se como se
fosse Deus.
Não
vos lembrais que eu vos dizia estas coisas quando ainda estava convosco? E vós
agora sabeis o que é que o retém, a fim de que seja manifestado a seu tempo.
Com efeito, o mistério da iniquidade já se espera, somente falta que aquele que
agora o retém, desapareça”.
Antes
de continuar, digamos uma palavra sobre este impedimento do qual fala São
Paulo. Algo impede o Anticristo de aparecer e de reinar. Algo o retém. O que é
este algo?
Muitas
hipóteses já foram levantadas. Eis duas delas que me parecem muito prováveis.
Esta
barreira, este impedimento, eram as nações católicas, eram os estados
pontifícios, onde o Papa era protegido pelos reis e pelo seu próprio reino
pontifício. Era o poder político protegendo o papado.
Hoje
o poder político é contra a Igreja. Já não existem nações oficialmente
católicas. O obstáculo, a muralha protetora foi derrubada, o Anticristo pode
aparecer. Ele não encontrará um exército para defender a Igreja conta seus
ataques.
A
segunda hipótese é a doutrina. A doutrina da Fé, a doutrina revelada, a
Tradição. Enquanto Roma mantiver a Tradição, o Anticristo não pode reinar,
porque os católicos unidos ao Papa como no tempo de São Pio X são um
impedimento à sua aparição e ao seu domínio sobre o mundo. São Pio X e os papas
até Pio XII retiveram o Anticristo, pois a Verdade é um obstáculo ao
Anticristo, que só pode reinar através da mentira.
Podemos
pensar que Dom Lefebvre e Dom Antônio fizeram o mesmo e retiveram o Anticristo
porque mantiveram a Tradição.
A
Fé católica é o impedimento. A Fé católica professada pelos bispos e pelos
papas. Mas se os papas e os bispos abandonam a Fé católica, o caminho fica
livre para o Anticristo. Mas como seria possível os papas e os bispos
abandonarem a Fé católica? Isto é obra do liberalismo.
O
liberalismo é a mais perigosa de todas as heresias. Liberalismo e modernismo
são duas heresias gêmeas. Elas são como um monstro de diversas cabeças. Elas
penetram na vida e na alma dos católicos de mil maneiras diferentes que vão
desde a televisão e a calça comprida para as mulheres até à revolução litúrgica
que destrói a missa e as fontes da graça na Igreja, passando por todas as
heresias ensinadas hoje nos meios modernistas.
Mas
continuemos a escutar São Paulo: “E então se manifestará esse iníquo (a quem o
Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e destruirá com o resplendor da sua
vinda); a vinda dele (isto é, do Anticristo) é por obra de Satanás, com todo o
poder, com sinais e prodígios mentirosos e com todas as seduções da iniquidade
para aqueles que se perdem, porque não abraçaram o amor da verdade para serem
salvos”.
“Por
isso Deus lhes enviará o artifício do erro, de tal modo que creiam na mentira,
para serem condenados todos os que não deram crédito à verdade, mas se
comprazeram na iniquidade.”
Logo,
caríssimos irmãos, nós vemos muito claramente que tanto a destruição do templo
de Jerusalém como a vinda do Anticristo têm a mesma causa: o desprezo da
verdade, o desprezo e abandono d’Aquele que disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade
e a Vida”. Se nós quisermos salvar nossas almas, nós temos que amar e viver na
Verdade. “Porque”, diz Nosso Senhor, “haverá grande aflição, qual nunca houve
desde o princípio do mundo até agora, nem haverá jamais. E se esses dias não
fossem abreviador, ninguém se salvaria: mas por causa dos eleitos, estes dias
serão abreviados”.
Que
aflição é esta da qual fala Nosso Senhor? É o desprezo da Verdade, é o abandono
da Fé católica, é o abandono dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, é o
abandono da Tradição, é o modo de pensar e o modo de viver dos quais Nosso
Senhor está ausente. É o liberalismo difundido pela maçonaria como preparação da
vinda do Anticristo, que será o pai da mentira como o é o demônio, do qual o
Anticristo será o filho espiritual por excelência, o discípulo.
Amemos,
pois, a Verdade. Amemos nossa Mãe Santíssima, ela que venceu e sempre vencerá o
demônio em todas as batalhas, ela da qual está dito: “Feliz és tu que venceste
todas as heresias em todo o mundo”.
Quem
ama a Virgem Maria jamais será enganado e se cair em algum erro não será por
muito tempo, pois ela o retirará rapidamente, pois um filho de Nossa Senhora
jamais se perderá.
Que
cada um de nós examine sua vida, que cada um de nós se pergunte se não está
pactuando com os precursores do Anticristo pelo seu procedimento, pela sua
vida, suas conversas, suas diversões e se ver que deve se corrigir, que o faça,
pois o tempo é breve e o machado já está para cair sobre a raiz, e nossa vida
para ser cortada, e o dia do Juízo para chegar para nós em particular e para o
mundo inteiro no Juízo Final.
Que
Nossa Senhora nos obtenha a salvação, eis a graça que desejo a todos nós. Assim
seja.
Dom
Tomás de Aquino O.S.B.
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